- Abraça Infância
O olhar para o desenvolvimento da criança em cada ciclo de vida na pedagogiaWaldorf
Nos primeiros anos de vida a criança desenvolve seu corpo e suas habilidades motoras
em uma velocidade que não acontece em nenhum outro momento de sua vida.
O bebê, por exemplo, é puro órgão sensório. Enquanto mama, é puramente leite.
Quando sente dor, sente em seu corpo inteiro, a vida dos sentidos está plenamente
desperta, mas ainda não totalmente desenvolvida.
Assim como os sentidos, o bebê ainda não desenvolveu sua capacidade motora, seus
movimentos são desordenados, sua respiração é rápida, quase sem ritmo.
Está totalmente entregue ao ambiente e ao adulto com o qual tem vínculo.
Aos poucos o bebê vai percebendo seu próprio corpo através do movimento que
acontece em seu interior e exterior. Percebe como se sente após mamar, percebe que
tem uma mão, quando esta cruza seus olhos, percebe um dedo que vai à boca. Assim
vão acontecendo as ligações neurais e começam a acontecer as sinapses.
Todos os movimentos levam à formação neurológica, então vemos uma atividade
intensa na cabeça da criança. Os sentidos como tato, a visão, a audição o paladar vão
se apurando, tudo isso através de um movimento corpóreo e fisiológico intenso.
É a fase onde vemos a criança mudar de tamanho mais rapidamente, fica evidente
uma intensa atividade de desenvolvimento física.
A partir daí a criança começa a conquistar sua autonomia. Ela se vira sozinha no berço,
rola, senta, sustenta a cabeça sozinha, vira de bruços, se arrasta, engatinha e
finalmente, fica de pé!
A partir deste momento, onde descobre a verticalidade, sua relação com o mundo se
torna outra.
A atividade dos olhos, por exemplo, atua de outra forma no espaço, assim como seus
membros, toda a relação com o mundo se dá a partir da relação da criança com seu
próprio corpo. Quando acontece essa conquista, abre-se espaço maior para a relação com o outro, o que acontecia basicamente com mãe, passa a existir gradativamente com outros
indivíduos com os quais a criança estabelece vínculos de cuidado e afeto.
A partir dos 2 anos e meio, mais ou menos, a atividade que antes estava centrada na
cabeça, desce um pouquinho para o tórax, e percebemos uma atividade intensa da
respiração e circulação na criança. Ela experimenta como ferramenta de expressão no
mundo agora, além do movimento espacial a fala.
Há uma maior interação com o mundo externo, sua respiração ganha maior cadência e
ritmo.
Aos três anos mais ou menos, a criança, ganha maior autonomia, pois já domina o
espaço, a linguagem e se identifica como indivíduo pela primeira vez ao dizer “eu”
para si mesma. Por exemplo: Fulana quer a boneca. Eu quero a boneca!
Ela vai deixando gradativamente de estar em relação una com o ambiente e vai
ganhando cada vez mais, autonomia corpórea, emocional, espacial e social.
A partir daí surge a oportunidade da socialização, ela não está mais ligada a si mesma,
exclusivamente, mas começa a se ligar ao que está ao seu redor.
Ela se relaciona com o outro usando a força da imitação. Portanto, ela deve ter no
ambiente exemplos dignos de serem imitados.
Proporcionamos a vivência de todas as atividades tipicamente humanas, como:
Lavar, varrer, cozinhar, costurar etc
A respiração que faz parte deste desenvolvimento, aparece na estruturação do dia,
com momentos de contração e expansão alternadamente.
Exemplo: brincar livre dentro, lanche, brincar livre fora.
Assim como ocorre no corpo esta respiração vai ganhando maiores momentos de
contração e expansão através dos afazeres no jardim.
As atividades propostas pelo adulto alternam estes momentos e assim buscam um
desenvolvimento saudável durante o dia na escola.
Assim como acontece a respiração do dia, acontece também a respiração da semana
que é marcada por um fazer específico para cada dia no jardim de infância.
A criança é levada pela atividade do adulto a se relacionar com este fazer.
As atividades por exemplo da semana no jardim são: aquarela, euritimia, trabalho
manual, o pão.
As atividades do dia são: brincar livre dentro, elaboração do lanche, afazeres da sala
como varrer, lavar a louça do lanche, arrumar a mesa…. Desenho, roda ritmica,
brincar livre fora e história que encerra o dia na escola.
Tudo isso dentro do movimento de contração e expansão.
O movimento de respiração acontece também na natureza, através das estações do
ano e são vivenciadas pelas crianças em épocas, que acontecem
normalmente no período de 28 dias ou quatro semanas.
O conteúdo das épocas relaciona-se diretamente com as festas cristãs e com as
estações do ano, através das imagens que são trazidas para as crianças, pelas histórias,
músicas, versos, cores, por tudo que permeia o ambiente da criança e pela própria
natureza que nos mostra estas características.
A vivência das festas cristãs se dá também através da relação com a natureza.
O que acontece no exterior nestas épocas está intimamente ligada às forças solares e
forças do interior da terra.
O brincar livre é a expressão de todo esse trabalho feito no ambiente da criança,
através da sua própria expressão corporal, imagética e cognitiva.
A criança se expressa com liberdade neste brincar e vai se construindo a partir dele.
Ele aparece primeiro ligado ao movimento corpóreo e espacial, depois ao movimento
da fantasia e por fim com o movimento cognitivo, onde planeja a brincadeira junto
com outras crianças.
Neste momento observamos um domínio da corporalidade na criança, um
amadurecimento dos sentidos do movimento, equilíbrio, tato e vitalidade, além do
maior equilíbrio da respiração, permitindo um maior tempo de contração, por
exemplo.
A troca dos dentes, o alongamento e domínio dos membros, uma habilidade de
interação social e uma memória temporal, tudo isso por volta dos seis anos, indicando
uma prontidão para o início do ensino fundamental.
Texto de Ana Paula Viale - professora Waldorf e apoiadora do Abraça Infância.